Quando  começamos a estudar psicologia, uma das primeiras lições é que não  devemos julgar nossos pacientes. Não nos cabe julgar se o que ele faz é  certo ou errado, melhor ou pior, até porque nossos parâmetros podem ser  completamente diferentes do deles. Para julgar, partimos da nossa  realidade, da nossa criação, da nossa moral, e como isso tudo varia  muito de pessoa pra pessoa, ninguém melhor do que o próprio paciente  para ser juiz de sua vida.
Mas  a realidade é outra. O habito de julgar está tão enraizado nas pessoas,  que elas fazem isso o tempo todo. Em nenhum momento se para pensar que  nossa realidade é única, portanto as outras pessoas podem ser  completamente diferentes daquilo que passam ser. Então a gente julga o  tempo todo: julgamos a gostosa que passa na rua porque ela está  aparecendo demais; julgamos a religiosa porque ela é fanática demais;  julgamos as feministas porque elas devem ser mulheres mal amadas; enfim,  julgar se tornou uma coisa tão trivial e fácil, que a gente faz o tempo  todo, sem perceber.
Julgar  é fácil. A gente analisa a vida e as escolhas dos outros baseados na  nossa história, nas nossas escolhas. Difícil é parar para tentar  entender as escolhas dos outros baseados na história de vida deles. Se  colocar no lugar do outro e tentar entender porque cada um escolhe o que  fazer com sua vida, isso é complicado porque exige que nos retiremos do  conforto da nossa vida para tentar entender outra realidade  completamente diferente da nossa. É fácil achar semelhanças, difícil é  lidar com as diferenças.
No  fundo não aceitamos bem as diferenças, sejam elas enormes ou pequenos  detalhes. É muito difícil tentar entender porque o diferente no outro  mexe comigo, me ataca, me afronta, me retira do conforto do meu lugar. E  esse é um dos objetivos da análise. Não estamos lá para julgar, estamos  lá para tentar entender de onde partem as escolhas de um sujeito, por  que e como aquilo o afeta diariamente. Mas o mesmo vale para o convívio  em sociedade. Se as escolhas de uma pessoa me afrontam, me incomodam a  ponto de eu sair apontando dedos e julgando, então está na hora de me  perguntar o que em mim aquilo está afetando. É só quando voltamos o  olhar para o nosso próprio umbigo que começamos a ser um pouco mais  tolerantes, e um pouco mais abertos as diferenças. Quando a gente tem  muita certeza e julga demais, estamos no caminho errado. Quando a gente  começa a ter mais duvidas, quando começamos a ser mais ponderados, isso é  um sinal de empatia.
postado por:PREDADOR 
