São histórias, vídeos e especialmente fotos que não casam com a realidade. Atos de heroísmo perdidos em meio a tantos escândalos, crises e preocupações consideradas mais relevantes. O romantismo, dentro a nossa rotina, resume-se à ficção de livros e filmes. Os exemplos que deveriam servir como sopros de ânimo são forjados de maneira inconsequentes para que haja motivação.
E é aí que surge o grande erro: a implantação forçada de romantismo no mundo.
A foto do marinheiro norte-americano beijando a enfermeira na Times Square após a vitória dos Estados Unidos sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial é um clássico que serve perfeitamente como exemplo. Durante anos, a legenda da foto citava o reencontro de Edith Shain com o namorado. Mas foi tudo uma questão de acaso. A própria Shain, falecida em 2010, admitiu:
O soldado agarrou-me e eu limitei-me a fechar os olhos. Deixei que me beijasse porque sabia que ele tinha estado a lutar por nós. Depois do beijo, largou-me e seguiu viagem. Não o conhecia e nunca mais o vi.Ainda na Segunda Guerra ocorreu uma das maiores produções de fotos espontaneamente forjadas da história. A imagem dos fuzileiros levantando uma bandeira americana no cume do Monte de Iwo Jima em 23 de fevereiro de 1945 foi obra do fotógrafo Joe Rosenthal. A foto, que foi de selo até inspiração para obras de homenagens a soldados mortos, não é da exata tomada da região. Trata-se de um segundo momento, onde Rosenthal pediu para que os militares refizessem o movimento com uma bandeira maior e dirigiu toda a cena.
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Rosenthal dirigiu a cena e criou um momento épico
O comissário havia sido acusado de incompetência para desvio sexual e traição.
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Antes, bem antes do Photoshop
Antes não tivessem alterado.
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Expectativa | Realidade
Assim, sem a possibilidade da exclusividade e invenção de fato, foi criado um novo formato de hoax jornalístico: o das fotos compartilhadas com a legenda que o publicador preferir. Do mesmo modo como nos anos 90 as correntes de e-mails prometiam um celular da Sony Ericsson doado pela Netscape, hoje o Facebook é um antro de aproveitadores que se apoiam na ingenuidade alheia para disseminar informações sem fundamento.
Não há como negar: na maioria dos casos a proposta é digna. Mas não se deve forjar o cenário somente para persuadir um individuo que seu argumento é válido. Caso a força da opinião defendida seja relevante, ela jamais vai necessitar da utilização de mentiras para ter a aptidão do receptor dessa mensagem. Nada contra sua postura de defender causas nobres, mas corromper o fato é algo tão absurdo quanto o que você muitas vezes critica.
É o que podemos analisar nos três exemplos a seguir.
Dilma não fez Raoni chorar
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"Belo Monte faz Cacique Raoni chorar"
O Cacique Raoni chora ao saber que Dilma liberou o inicio das construções de Belo Monte. Belo Monte seria maior que o Canal do Panamá, inundando pelo menos 400.000 hectares de floresta, expulsando 40.000 indígenas e populações locais e destruindo o habitat precioso de inúmeras espécies. Tudo isto para criar energia que poderia ser facilmente gerada com maiores investimentos em eficiência energética.A foto original do Caciqui Raoni é de 2007. A imagem foi registrada durante um evento onde Raoni foi homenageado por amigos e líderes culturais. O choro realmente ocorreu, mas foi um choro de emoção.
Palmas, para os que votaram… e jogaram o voto na mão de gente oportunista e sem escrupulos!!
Era um tenente. E era um julgamento.
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"Soldado chora após milagre"
Um jovem que trabalhava no exército era humilhado por ser cristão. Um dia seu superior querendo humilhá-lo na frente do pelotão chamou o soldado e disse: jovem venha aqui pegue esta chave vá até aquele jipe e estacione ali na frente. O jovem disse: Senhor não sei dirigir. Então, disse o superior, peça ajuda a seu Deus mostre que ele existe. O soldado pegou a chave e começou a orar, depois o soldado ligou o veiculo manobrou e estacionou perfeitamente.Não houve milagre, humilhação e muito menos Deus. A imagem demasiadamente compartilhada nos últimos dias por fanáticos religiosos é uma foto de maio de 2010. Na ocasião, o tenente Vinicius Ghidetti de Moraes Andrade chorou durante um depoimento no Supremo Tribunal Federal.
Ao sair do jipe o soldado viu todos de joelho, chorando e dizendo: Nós queremos teu Deus. O jovem soldado espantado perguntou o que estava acontecendo, e o superior chorando abriu o capô do jipe e mostrou para o jovem que o carro estava sem motor. O jovem então disse: Está vendo senhor!
Esse é o Deus que eu sirvo, o Deus do impossivel, o Deus que traz a existência aquilo que não existe.
O tenente foi acusado de ter dado ordem para que soldados do Exército entregassem a traficantes de uma facção três jovens moradores do Morro da Providência, no Rio de Janeiro.
Professor era oficial da Polícia Militar
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"Professor carrega PM em geste de soliedariedade"
Um professor carregou a oficial da PM machucada na manifestação na Paulista. Exemplo de solidariedade e ética da classe!Essa foto, mesmo ganhando a timeline do Facebook só em 2012, é de 2010. E bastante popular. O registro de Clayton de Souza foi assunto de investigação dos principais veículos do Brasil. O ato ocorreu em 26 de março daquele ano, durante confronto entre policiais e professores em uma assembleia promovida próxima ao Palácio dos Bandeirantes. O Estadão publicou que tratava-se de um professor auxiliando a PM lesionada.
No entanto, a Polícia Militar divulgou nota em seu blog confirmando que o homem era um policial a paisana. Trata-se de um oficial P2, um tipo de agente secreto que trabalha para a Polícia Militar de São Paulo.
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O mundo precisa de mais amor. Mas amor de verdade. (Clique nesta foto para saber mais sobre ela em outro post.)
De nada custa checar a informação antes de compartilha-la. É tolerável a ânsia de querer fazer algo de bom para o mundo e pedir para os próximos fazerem o mesmo. Coisas boas devem ser compartilhadas quando realmente ocorrerem.
Os registros sempre vão existir e estarão cada vez mais disponíveis. Lembre-se de valorizar os reais. E não caia – nem compartilhe – trotes. Às vezes o impacto dessas farsas vai além do momentâneo, podendo ser determinantes para suas percepções.
Se basear em mentiras não costuma dar certo. E não é sua boa vontade que vai mudar isso.
via papo de homem