São histórias, vídeos e especialmente fotos que não casam com a realidade. Atos de heroísmo perdidos em meio a tantos escândalos, crises e preocupações consideradas mais relevantes. O romantismo, dentro a nossa rotina, resume-se à ficção de livros e filmes. Os exemplos que deveriam servir como sopros de ânimo são forjados de maneira inconsequentes para que haja motivação.
E é aí que surge o grande erro: a implantação forçada de romantismo no mundo.
A foto do marinheiro norte-americano beijando a enfermeira na Times Square após a vitória dos Estados Unidos sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial é um clássico que serve perfeitamente como exemplo. Durante anos, a legenda da foto citava o reencontro de Edith Shain com o namorado. Mas foi tudo uma questão de acaso. A própria Shain, falecida em 2010, admitiu:
O soldado agarrou-me e eu limitei-me a fechar os olhos. Deixei que me beijasse porque sabia que ele tinha estado a lutar por nós. Depois do beijo, largou-me e seguiu viagem. Não o conhecia e nunca mais o vi.Ainda na Segunda Guerra ocorreu uma das maiores produções de fotos espontaneamente forjadas da história. A imagem dos fuzileiros levantando uma bandeira americana no cume do Monte de Iwo Jima em 23 de fevereiro de 1945 foi obra do fotógrafo Joe Rosenthal. A foto, que foi de selo até inspiração para obras de homenagens a soldados mortos, não é da exata tomada da região. Trata-se de um segundo momento, onde Rosenthal pediu para que os militares refizessem o movimento com uma bandeira maior e dirigiu toda a cena.
Modos de mascarar, inclusive, mortes e crimes foram utilizados na manipulação de fotos. Como o caso do comissário do partido soviético Nikolai Yezhov. Ele foi executado pela polícia secreta em 1940. Na segunda foto publicada na época, Nikolai simplesmente desapareceu da imagem oficial ao lado de Stálin, presidente da antiga União Soviética.
O comissário havia sido acusado de incompetência para desvio sexual e traição.
A manipulação também foi utilizada para impressionar. Foi o que o Irã fez – ou pelo menos tentou – em 2008. A imagem assustadora de quatro mísseis sendo testados foi capa dos principais jornais do mundo. A notícia era essa, até que um atento diretor de arte observou o copy paste de área na foto para disfarçar o míssil que havia falhado no lançamento. A proposta de negar o erro transformou o simples fato do Irã divulgar o lançamento como uma vitória em piada.
Antes não tivessem alterado.
As fotos acima são somente referências de como os fotógrafos, utilizando técnicas que vão desde direção dos personagens até manipulação do cenário, conseguem produzir um contexto histórico inabalável. Essa propriedade que o fotografo possuía de registrar uma única imagem forjada esvaiu-se com o tempo, onde são raros os momentos que possuem apenas uma foto de um único ângulo.
Assim, sem a possibilidade da exclusividade e invenção de fato, foi criado um novo formato de hoax jornalístico: o das fotos compartilhadas com a legenda que o publicador preferir. Do mesmo modo como nos anos 90 as correntes de e-mails prometiam um celular da Sony Ericsson doado pela Netscape, hoje o Facebook é um antro de aproveitadores que se apoiam na ingenuidade alheia para disseminar informações sem fundamento.
Não há como negar: na maioria dos casos a proposta é digna. Mas não se deve forjar o cenário somente para persuadir um individuo que seu argumento é válido. Caso a força da opinião defendida seja relevante, ela jamais vai necessitar da utilização de mentiras para ter a aptidão do receptor dessa mensagem. Nada contra sua postura de defender causas nobres, mas corromper o fato é algo tão absurdo quanto o que você muitas vezes critica.
É o que podemos analisar nos três exemplos a seguir.
Dilma não fez Raoni chorar
O Cacique Raoni chora ao saber que Dilma liberou o inicio das construções de Belo Monte. Belo Monte seria maior que o Canal do Panamá, inundando pelo menos 400.000 hectares de floresta, expulsando 40.000 indígenas e populações locais e destruindo o habitat precioso de inúmeras espécies. Tudo isto para criar energia que poderia ser facilmente gerada com maiores investimentos em eficiência energética.A foto original do Caciqui Raoni é de 2007. A imagem foi registrada durante um evento onde Raoni foi homenageado por amigos e líderes culturais. O choro realmente ocorreu, mas foi um choro de emoção.
Palmas, para os que votaram… e jogaram o voto na mão de gente oportunista e sem escrupulos!!
Era um tenente. E era um julgamento.
Um jovem que trabalhava no exército era humilhado por ser cristão. Um dia seu superior querendo humilhá-lo na frente do pelotão chamou o soldado e disse: jovem venha aqui pegue esta chave vá até aquele jipe e estacione ali na frente. O jovem disse: Senhor não sei dirigir. Então, disse o superior, peça ajuda a seu Deus mostre que ele existe. O soldado pegou a chave e começou a orar, depois o soldado ligou o veiculo manobrou e estacionou perfeitamente.Não houve milagre, humilhação e muito menos Deus. A imagem demasiadamente compartilhada nos últimos dias por fanáticos religiosos é uma foto de maio de 2010. Na ocasião, o tenente Vinicius Ghidetti de Moraes Andrade chorou durante um depoimento no Supremo Tribunal Federal.
Ao sair do jipe o soldado viu todos de joelho, chorando e dizendo: Nós queremos teu Deus. O jovem soldado espantado perguntou o que estava acontecendo, e o superior chorando abriu o capô do jipe e mostrou para o jovem que o carro estava sem motor. O jovem então disse: Está vendo senhor!
Esse é o Deus que eu sirvo, o Deus do impossivel, o Deus que traz a existência aquilo que não existe.
O tenente foi acusado de ter dado ordem para que soldados do Exército entregassem a traficantes de uma facção três jovens moradores do Morro da Providência, no Rio de Janeiro.
Professor era oficial da Polícia Militar
Um professor carregou a oficial da PM machucada na manifestação na Paulista. Exemplo de solidariedade e ética da classe!Essa foto, mesmo ganhando a timeline do Facebook só em 2012, é de 2010. E bastante popular. O registro de Clayton de Souza foi assunto de investigação dos principais veículos do Brasil. O ato ocorreu em 26 de março daquele ano, durante confronto entre policiais e professores em uma assembleia promovida próxima ao Palácio dos Bandeirantes. O Estadão publicou que tratava-se de um professor auxiliando a PM lesionada.
No entanto, a Polícia Militar divulgou nota em seu blog confirmando que o homem era um policial a paisana. Trata-se de um oficial P2, um tipo de agente secreto que trabalha para a Polícia Militar de São Paulo.
Não estamos falando para você desacreditar que o mundo pode ser mais heroico. A questão tratada aqui é a da responsabilidade. Vivemos um momento de imagens ilimitadas e compartilhamento acelerado de dados. É preciso muito cuidado antes de cuspir informações e opiniões desencontradas sem saber a origem do ocorrido.
De nada custa checar a informação antes de compartilha-la. É tolerável a ânsia de querer fazer algo de bom para o mundo e pedir para os próximos fazerem o mesmo. Coisas boas devem ser compartilhadas quando realmente ocorrerem.
Os registros sempre vão existir e estarão cada vez mais disponíveis. Lembre-se de valorizar os reais. E não caia – nem compartilhe – trotes. Às vezes o impacto dessas farsas vai além do momentâneo, podendo ser determinantes para suas percepções.
Se basear em mentiras não costuma dar certo. E não é sua boa vontade que vai mudar isso.
via papo de homem