24 de fev. de 2012

A fantasia da mulher lésbica

Antes de tudo devemos distinguir dois tipos de mulheres homossexuais: as que se afirmam muito cedo — a partir da idade de 12-13 anos —, que não mudarão e jamais conhecerão a heterossexualidade; e depois aquelas que, ao contrário, foram primeiro heterossexuais, depois lésbicas durante um período de sua vida, para reencontrar às vezes a heterossexualidade. 
As primeiras são mulheres de aparência masculina que jamais tiveram relações heterossexuais e mantêm uma profunda aversão por qualquer detentor de pênis. Têm horror do homem tal como o imaginam: obsceno, brutal, desprezível, covarde e fanfarrão. Mas é preciso compreender que sua rejeição do homem não é uma rejeição da virilidade. Ao contrário, idealizam a virilidade e dela se apropriam. Vivenciam-se na pele de um ser viril depurado, perfeito, desprovido de todos os defeitos do gênero masculino  e bem superior ao homem comum. Esse ser ideal com o qual se identificam é na verdade uma figura híbrida composta de uma parte masculina e uma parte materna. É uma estranha mãe masculinizada, protetora e iniciadora.

Pode-se considerar que essas mulheres viris estruturam sua vida amorosa de acordo com uma cena inconsciente em que desempenham o papel de mãe masculinizada, fazendo com que sua protegida desempenhe o papel complementar de uma menininha de olhos dolentes, sólida e ternamente amada. Justamente, o outro modo de homossexualidade de tipo feminino que alguém poderia qualificar corresponde àquelas que se deixam iniciar na volúpia de um amor sem pênis. Trata-se de mulheres que viveram experiências heterossexuais, casadas o mais freqüentemente, algumas vezes com filhos, que, decepcionadas por um homem, se apaixonam violentamente por uma parceira ao mesmo tempo forte e doce, adornada de todas as virtudes masculinas e maternas. Se a paixão se extinguir, freqüentemente essas homossexuais se invertem e se comprometem com um homem. 
Poderíamos então distinguir dois gêneros de homossexuais lésbicas: as de tipo masculino, que se identificam com um homem assexuado e materno; e as de tipo feminino , que se identificam com uma menininha apaixonada. Apesar de sua reciprocidade, essas duas categorias de mulheres nem sempre formam um casal. Muitas relações homossexuais estão fundadas em motivações mais complexas e sutis.
Assim sendo, o que me surpreende mais no laço amoroso entre mulheres é que ele se ata com uma ternura infinita, uma nostalgia e uma mútua fragilidade. Enquanto dois homens se unem em torno do sexo erigido, duas mulheres se amam em torno de uma falta e saboreiam, como tão bem escreveu Colette, “o amargo deleite de se sentirem semelhantes, insignificantes e esquecidas.”
 
Postado por:PREDADOR
 

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