Antes  de tudo devemos distinguir dois tipos de mulheres homossexuais: as que  se afirmam muito cedo — a partir da idade de 12-13 anos —, que não  mudarão e jamais conhecerão a heterossexualidade; e depois aquelas que,  ao contrário, foram primeiro heterossexuais, depois lésbicas durante um  período de sua vida, para reencontrar às vezes a heterossexualidade. 
As  primeiras são mulheres de aparência masculina que jamais tiveram  relações heterossexuais e mantêm uma profunda aversão por qualquer  detentor de pênis. Têm horror do homem tal como o imaginam: obsceno,  brutal, desprezível, covarde e fanfarrão. Mas é preciso compreender que  sua rejeição do homem não é uma rejeição da virilidade. Ao contrário,  idealizam a virilidade e dela se apropriam. Vivenciam-se na pele de um  ser viril depurado, perfeito, desprovido de todos os defeitos do gênero  masculino  e bem superior ao homem comum. Esse ser ideal com o qual se  identificam é na verdade uma figura híbrida composta de uma parte  masculina e uma parte materna. É uma estranha mãe masculinizada,  protetora e iniciadora. 
Pode-se  considerar que essas mulheres viris estruturam sua vida amorosa de  acordo com uma cena inconsciente em que desempenham o papel de mãe  masculinizada, fazendo com que sua protegida desempenhe o papel  complementar de uma menininha de olhos dolentes, sólida e ternamente  amada. Justamente, o outro modo de homossexualidade de tipo feminino que  alguém poderia qualificar corresponde àquelas que se deixam iniciar na  volúpia de um amor sem pênis. Trata-se de mulheres que viveram  experiências heterossexuais, casadas o mais freqüentemente, algumas  vezes com filhos, que, decepcionadas por um homem, se apaixonam  violentamente por uma parceira ao mesmo tempo forte e doce, adornada de  todas as virtudes masculinas e maternas. Se a paixão se extinguir,  freqüentemente essas homossexuais se invertem e se comprometem com um  homem. 
Poderíamos  então distinguir dois gêneros de homossexuais lésbicas: as de tipo  masculino, que se identificam com um homem assexuado e materno; e as de  tipo feminino , que se identificam com uma menininha apaixonada. Apesar  de sua reciprocidade, essas duas categorias de mulheres nem sempre  formam um casal. Muitas relações homossexuais estão fundadas em  motivações mais complexas e sutis. 
Assim  sendo, o que me surpreende mais no laço amoroso entre mulheres é que  ele se ata com uma ternura infinita, uma nostalgia e uma mútua  fragilidade. Enquanto dois homens se unem em torno do sexo erigido, duas  mulheres se amam em torno de uma falta e saboreiam, como tão bem  escreveu Colette, “o amargo deleite de se sentirem semelhantes,  insignificantes e esquecidas.”
Postado por:PREDADOR 


